(Texto extraído de um dos trabalhos da
minha formação em Psicanálise)
Os conceitos de orientação e de
aconselhamento, vistos pelo lado de seus efeitos, têm variado ao longo da
história. Já dizia Sócrates quatro séculos antes de Cristo: "Conhece-te a
ti mesmo", conceito que parece se renovar no posicionamento atual da linha
existencialista e rogeriana (isto é, segundo o conceito de Rogers) e que com
algumas alterações de forma e de conteúdo vem prevalecendo através dos tempos.
Todavia, há pensamentos diferentes.
Williamson (1939), um dos pioneiros do
movimento acadêmico de Orientação, identificava, em certos aspectos, o
aconselhamento com a Educação, considerando que "à parte da moderna
Educação referida como aconselhamento é a que se refere a processos
individualizados e personalizados, destinados a ajudar o indivíduo a aprender
matérias escolares, traços de cidadania, valores e hábitos pessoais e sociais e
todos os outros hábitos, habilidades, atitudes e crenças que irão constituir um
ser humano normal e ajustado”. Como uma das grandes expressões no campo do
aconselhamento, Rogers (1942, 1951) não se preocupa em estabelecer conceitos e definições,
de toda sua obra, porém, se depreende que o aconselhamento é um método de
assistência psicológica destinado a restaurar no indivíduo, suas condições de
crescimento e de atualização, habilitando-o a perceber, sem distorções, a
realidade que o cerca e a agir, nessa realidade, de forma a alcançar ampla
satisfação pessoal e social. Aplica-se em todos os casos em que o indivíduo se
defronta com problemas emocionais, não importando se trata de doenças ou perturbações
não patológicas. Para Robinson (1950), baseado principalmente nas técnicas de comunicação,
e originariamente de seu colega Rogers, o aconselhamento é a atuação que
"cobre todos os tipos de situações de duas pessoas, na qual, uma delas,
sendo o cliente é ajudado a ajustar-se mais eficazmente a si próprio e a seu
meio". Sua técnica principal é a comunicação, através de entrevistas
cuidadosamente conduzidas e testadas de momento a momento, que facilitam a
tomada de decisões e atuam terapeuticamente. De ponto de vista dos efeitos da
relação ocorrida no processo de aconselhamento, Pepinskye Pepinsky (1954) os
definem como resultantes da interação que ocorre entre dois indivíduos,
conselheiro e cliente, sob forma profissional, sendo iniciada e mantida como
meio de facilitar alterações no comportamento do cliente. Patterson (1959) é de
opinião que o aconselhamento pode ser focalizado em termos de áreas de
problemas (educacionais, vocacionais, conjugais, etc.), assim como em termos de
ajustamento pessoal ou mesmo terapêutico. Segundo esse mesmo autor, o
aconselhamento não se limita a pessoas normais; aplica-se ao excepcional, ao
anormal ou ao desajustado; manipula as tendências adaptativas do indivíduo a
fim de que este possa usá-los efetivamente. Na corrente comportamental,
encontramos Bijou (1966) afirmando ser "o objetivo final do aconselhamento
ajudar o cliente a lidar mais eficazmente com seu meio e a substituir o comportamento
mal ajustado pelo ajustado". Krumboltz (1966), coloca os alvos do
aconselhamento na mesma direção dos psicólogos contemporâneos. Segundo seus
conceitos, "orientadores e psicólogos dedicam-se a ajudar as pessoas a
resolverem mais adequadamente certos tipos de problemas. Piéron (Nepveu, 1961),
em um de seus últimos trabalhos, dizia que os métodos americanos se aproximam
muito da Psicanálise e que a concepção francesa e a americana divergem muito no
juízo que fazem sobre o papel do conselheiro. Nepveu pareceu exprimir bem a tendência
na época dominante na França e, talvez, na Europa quando, analisando os métodos
de Rogers, de Super e de Bordin e baseando-se em contribuições européias de
Nahoum, Delys e de outros, afirma que uma das atitudes correntes é o
"conselheiro adotar uma atitude de perito, ou de amigos
desinteressado". Stefflre e Grant (1976), ao escreverem sobre
aconselhamento psicológico, chegam a algumas considerações que parecem exprimir
a dimensão hoje dominante: a) "a definição de aconselhamento depende dos diferentes
pontos de vista das autoridades no assunto” – “Essas diferenças têm origem em
diferentes pontos de vista filosóficos"; b) "não se pode fazer uma
distinção muito clara e precisa entre aconselhamento e psicoterapia"; c) "o
aconselhamento é uma forma deliberada de intervenção na vida dos clientes".
Para Rollo May (1977), o campo do aconselhamento situa-se entre os problemas da
personalidade, para os quais há necessidade de um terapeuta e os problemas de
imaturidade ou de carência de instrução, para os quais há necessidade de um
educador.
Perry (1960) distingue o aconselhamento da
psicoterapia, baseando-se nos papéis e funções sociais visados pelo primeiro e
na dinâmica da personalidade proposta pela psicoterapia. Rogers (1942; 1955)
usa os dois termos de forma indiferente, porquanto, segundo ele, não há o que
distinguir na série de contatos individuais que visam assistir a pessoa na
alteração de atitudes ou do comportamento. Wolberg (1977) salienta que a
psicoterapia é uma forma de tratamento para problemas de natureza emocional e
na qual uma pessoa, especialmente treinada, estrutura uma relação profissional
com o cliente, com o objetivo de remover ou de modificar os sintomas ou padrões
inadequados de comportamento e promover crescimento e desenvolvimento da
personalidade. Albert (1966), por outro lado, declara que o mesmo processo
informativo, concerne-se ao aconselhamento acadêmico e vocacional, não pode se
limitar aos planos conscientes e racionais da personalidade, já que os níveis profundos
se refletem em todos os aspectos do comportamento. Deixar ao psicólogo os chamados
"casos normais com problemas", diferenciando-os dos patológicos ou
anormais para os psiquiatras, é praticamente impossível, mesmo porque o
conceito de normalidade é apenas uma proposição teórica (Mowrer, 1954). Uma das
mais explícitas conceituações e descrições dos papéis atribuídos aos que se
especializam em Aconselhamento Psicológico é proposta por Jordan (1968), em seu
levantamento sobre as funções do Conselheiro Psicológico. Segundo dados por ele
compilados, este atua em diferentes setores da vida social (consultórios,
centros universitários, escolas, hospitais, centros de reabilitação, serviços
de orientação profissional, departamentos de pessoal, serviços de colocação e
de treinamento, etc.). Os dados hoje existentes parecem caracterizar o
psicólogo-conselheiro como o profissional da psicologia de formação mais
eclética o que não impede, contudo, que se dedique também a um determinado tipo
de atuação na qual, particularmente, venha a especializar-se, a exemplo dos que
se dedicam a problemas psicológicos do Trabalho, da Educação, da Família, etc.
Cezar Camargo
Teólogo, Palestrante, Coach, Consultor
T&D, Assessoria & Mentoria Pessoal, Formando em Psicanálise. Atualmente
atua como Coach Life e Mentor de vida Pessoal na D’Camargo Consulting desde
2015.
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