“Nenhum médico é capaz de curar a
cegueira da mente”.
(Textos Judaicos)
O sistema sensorial é a parte do sistema
nervoso responsável pelo processamento de informações sensoriais. Os mais
conhecidos são cinco: a visão, a audição, o tato, o paladar e o olfato, mas é
consenso na comunidade científica que os seres humanos possuem muito mais. Segundo
Jessica Cerretani, cientista medica em Harvard não há, porém, acordo na
quantidade, pois isso depende da definição não muito sólida do que constitui um
sentido. Dentre estes sentidos quero destacar a visão. Mas no sentido mais
amplo, a consciência. A ausência deste sentido, a visão coloca qualquer plano
em rota de fracasso. A consciência precisa estar clareada de bons fluidos. A
mente se cura com lucidez. E lucidez se obtém com claridade de idéias e de
sentido. A mente se cura com conhecimento que gera entendimento.
É sabido que a “agnosia Visual
Associativa” é quando o cérebro percebe perfeitamente as formas de um
objeto, mas não consegue atribuir um significado à sua imagem. Por exemplo, uma
bola de futebol é apenas uma esfera. Enquanto que a “prosopagnosia” consegue
reconhecer objetos, mas é incapaz de diferenciar rostos. Isso porque a face é
processada em áreas específicas do cérebro, lesionada nos prosopagnósticos.
Assim também é na existência, quando não se consegue mais dar sentido é quando
os significados não são mais perceptíveis, a vida fica em preto e branco.
Há também as figuras sem sentido... O
tipo de agnosia visual de P. era a associativa. Nesses casos, o cérebro
"enxerga" perfeitamente o objeto, mas não consegue encontrar o seu
significado. É como se perdesse o acesso a uma biblioteca com informações sobre
imagens. Não dá para dar nome às coisas nem agrupá-las por categoria. Há
pessoas que compreendem, enxergam bem a situação a sua volta, mas não encontram
sentido. Tem a “simultanagnosia ventral” a pessoa consegue ver vários objetos
ao mesmo tempo, mas só consegue atribuir significado a um de cada vez. Sua
principal dificuldade é na hora de ler, embora consiga escrever bem. Neste
ponto a dificuldade é perceber os ambientes, identificar a realidade, enxergar
o obvio e principalmente enxergar a si mesmo. Nossa mente é complexa e exige
cuidados e atenção.
Estudando mais sobre o cérebro que é em
verdade uma máquina impressionante, um verdadeiro painel de controle do nosso
corpo. Tudo o que fazemos – e como fazemos – está relacionado ao bom
funcionamento das funções cerebrais. Como todo bom sistema, porém, o cérebro
também costuma dar ‘tilt’. Uma das panes mais conhecidas é a chamada “cegueira
histérica”. Segundo dados do sit.
medicinanet ela faz parte das disfunções que os médicos entendem como
transtornos de conversão - distúrbios de somatização em que o orgânico está
saudável e a moléstia surge de fatores psicológicos. Há casos de pacientes
mudos e até paralíticos.
O termo somatização foi criado em 1943
por Stekel para definir um “distúrbio corporal que surge como expressão de uma
neurose profundamente assentada, uma doença do inconsciente”. Diversas doenças
clínicas, muitas vezes com etiologia clara ou conhecida apenas em parte, têm
sido estudadas no que concerne à influência de fatores psicológicos como
estresse, ansiedade, estado de humor, traços de personalidade e de
comportamento na gênese ou exacerbação dos seus sintomas. Tais afecções têm
sido historicamente denominadas doenças psicossomáticas, por uma clara
associação de vulnerabilidade para o aparecimento ou piora da doença na
concomitância de estressores psicológicos ou psicossociais.
A característica essencial da
somatização é um padrão de múltiplas queixas somáticas recorrentes e
clinicamente significativas, sendo muito mais comum nas mulheres do que nos
homens. Já o uso do termo conversão surge pela primeira vez nos trabalhos de
Sigmund Freud e Josef Breuer em 1894, para designar um sintoma motor em
substituição a uma ideia reprimida. Atualmente, define-se conversão como a presença
de um ou mais sintomas ou déficits que afetam a função motora voluntária ou
sensorial, sugerindo a presença de uma doença neurológica ou de outra condição
médica que não pode ser comprovada objetivamente. “É o caso do olho que vê, mas
não enxerga”. “Olhos têm, mas não vêem”. (Salmos 115:5)
No século 19, quando a ‘cegueira
histérica’ foi catalogada, um paciente que estava cego de um olho há mais de
dez anos afirmava sentir dores no local. Após inúmeros testes clínicos, o olho
parecia completamente saudável do ponto de vista fisiológico, mas não
funcionava. Quando tudo caminhava para a retirada do olho cego, o médico, sem
avisar, decidiu fazer um último teste e tapou o campo de visão do olho bom, de
modo que o paciente pudesse enxergar apenas com o olho ruim. Para surpresa
geral, o paciente continuava enxergando normalmente. Lembrando que segundo a
Psicanálise histeria é uma neurose complexa caracterizada pela instabilidade
emocional. Os conflitos interiores manifestam-se em sintomas físicos, como por
exemplo, paralisia, cegueira, surdez, etc. Pessoas histéricas freqüentemente
perdem o autocontrole devido a um pânico extremo. Foi intensamente estudada por
Charcot e Freud.
Em verdade a histeria dos sentidos é
quando a consciência perde a direção, deixar de funcionar segundo uma ordem de princípios
e valores. As manifestações são catastróficas. Às vezes é preciso olhar por uma
nova preceptiva, retornar ao portão seguro, a cura está em restaurar o
equilíbrio emocional. Procurar um profissional da área não é vergonhoso, há
bons psicanalista, psicólogos que com certeza lhe ajudarão a restabelecer os
sentidos. É importante frisar de fato que a cegueira histérica não tem relação
alguma com a síndrome NOHL, que faz com que a pessoa atingida pare de enxergar
de forma inesperada. Estamos vivenciando uma geração cega de entendimento,
doentia, contaminados pelo desinteresse por conhecimento. Uma geração
zumbificada, que vive sem percepção, discernimento, bom senso e coerência. A
consciência cega perde a capacidade de discernir. A mente quando exposta a um
padrão fora do bom senso de realidade fica cauterizada formatada e condicionada
a agir segundo uma estrutura de significados deturpada que ignora a lógica e a
ética.
“A pior cegueira é a dos que não sabem
que estão cegos”. (Clarice Lispector)
Assim está a presente geração, cega. Não
tem mais visão mental, vivem em uma ideologia onde o que importa é o agora, o
presente. Onde tudo pode, as conseqüências é o que menos importa. Estar sem
direção é de fato uma cegueira dos sentidos. A busca desenfreada cega de fato o
censo de percepção. A ausência da realidade é típica deste tempo. Uma geração
linda, inteligente, tecnológica, mas sem alma. Que adianta ver se não enxerga?
Do que adianta enxergar e não ter capacidade de dar significados? Pois então! Penso
que estamos caminhando para era da individualização. Uma era onde se
materializara o desejo de muitos, que em resume é, cada um no seu quadrado, que
cuide de si - mesmo, afinal eu já tenho os meus.
“Apenas quando somos instruídos pela realidade é que podemos mudá-la”. (Bertolt Brecht)
É preciso andar pisando o chão da
realidade, a fantasia é um chão sem estruturas, não há alicerces para construir
coisa alguma. O caminho para se manter lúcido é cuidar de si mesmo. Estamos em
um tempo que exige atenção e cuidado. Idéias podem ser contestadas, mas há
verdades que precisam ser defendidas e elas devem ser coerentes com a
realidade. A mentira é cega, a verdade, no entanto é clara. A verdade ilumina o entendimento dando luz a realidade. A realidade é construída a partir do pensamento. A instrução conduz o tolo a sabedoria e a clareza dos sentidos. É na clareza da existência que se vive o chão da realidade.
Cezar Camargo
Inverno – Setembro/2015
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