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ALTRUÍSTAS POR EXCELÊNCIA

 

“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana” – C. J. Jung

            Todo indivíduo de bem se torna uma fonte inesgotável de ocitocina. Você sabia que a ocitocina é liberada em nosso corpo quando fazemos o bem desinteressado e que o seu efeito abrange tanto o que recebe quanto o que oferece assistência?

            Em resumo, a ocitocina ou oxitocina, ou “hormônio do amor”, é um neurotransmissor natural produzido pelo hipotálamo no cérebro que, uma vez entendido, transforma indivíduos de bem em altruístas por excelência. Alguns estudos certificam que o altruísmo aparece por volta de um ano e meio de vida do indivíduo, refletindo uma tendência natural à solidariedade. No entanto, alguns pensadores acreditam que as pessoas não se tornam altruístas de imediato, mas que esta condição surge da educação e da vivência. 

             Neste ponto, reflitamos um pouco sobre o altruísmo, do francês altruisme. Altruísmo é a conduta humana que consiste em dar atenção não interesseira ao próximo, mesmo quando essa iniciativa atenta contra o seu próprio bem. Assim, o altruísmo revela-se como o oposto do egoísmo, que, em síntese denota o amor demasiado que um sujeito sente por si mesmo e que o direciona a atender excessivamente ou exclusivamente aos seus próprios interesses. Diferente do altruísmo, comportamento encontrado em seres humanos e em outros seres vivos que envolve filantropia, é sinônimo de solidariedade. Desse modo, é o AMOR, bem estruturado, que proporciona bom senso para as ações de solidariedade, de altruísmo.

            Todavia é preciso ascender nesse entendimento para que a consciência seja reconfigurada, resultando em ações, ou seja, a prática da solidariedade. Assim, à medida que vamos compreendendo isso nas relações uns com os outros, tornamo-nos hábeis ao altruísmo. Inquestionavelmente, ter um posicionamento altruísta é um ato de revolução do entendimento que o indivíduo passa a ter em seu processo de maturidade.

             Logo, se analisarmos o mundo em que vivemos e em como se encontra atualmente o inconsciente coletivo, como podemos deixar de assumir nossa responsabilidade neste tempo? E para tal, é necessário abdicar de interesses pessoais e, juntos, de forma organizada, estratégica e harmoniosa buscar meios seguros para a realização de ações sustentáveis, a fim de que haja solidariedade assistida, de forma pontual e precisa em curto, médio e longo prazo.

             Segundo o artigo de Stèphanie Krieger, Mestra em Psicologia Social - (Doutoranda em Psicologia Social pela Universidade do Rio de Janeiro), o altruísmo constitui um comportamento importante para as relações interpessoais e para a vida em sociedade. Ainda que tenha como condição um prejuízo para quem o exerce, parece gerar, de maneira imprevista, satisfação e bem-estar para o altruísta, além de melhorar o estado daquele que recebe a ajuda. Portanto, a hipótese empatia-altruísmo coloca a empatia em um ponto central para o desempenho do comportamento altruísta, o qual requer uma interpretação cognitiva acurada da necessidade do outro, para que as emoções desencadeadas e o comportamento decorrente sejam, de fato, funcionais e úteis. Stèphanie Krieger afirma, ainda, que, o altruísmo representa um comportamento decisivo na manutenção da espécie humana e demonstra efeitos positivos importantes no bem-estar e na saúde.

                  “Generosidade, Caridade e Humildade, estas virtudes deveriam ser inatas nos seres humanos.” – Édy Leonardo.

            Pensando nessas virtudes citadas por Édy Leonardo, presume-se que a cognição, quando se torna apurada pela construção assertiva de nossa capacidade intelectiva, possibilita o entendimento de que a empatia nos dá a faculdade e a habilidade para nos centrarmos em conhecer o outro na sua realidade, é o caminho para nos posicionarmos no lugar do outro, para o compreendermos, considerando aspectos do íntimo. Mesmo que não entendamos esses aspectos ao certo, ter essa predisposição auxilia nesse exercício.

            Assim, é nessa dinâmica que a empatia se manifesta, de forma não seletiva, sem acepção, visto que a empatia é a genuína a exteriorização do bem, que produz aceitação, equidade e respeito pela realidade de cada um em seus contextos. Isso, obviamente, implica atitudes de despojamentos de preconceitos de cada ser envolvido no processo, para, então, os gestos de solidariedade serem ações espontâneas. É importante salientar que, todo gesto de solidariedade, por mais simples que seja, tem o poder de fazer com que o que está ao redor seja melhorado. Não é a quantidade de recursos ou coisas, mas o propósito, que carrega o combustível para cada ação de generosidade e isso passe o melhorar a vida dos envolvidos na assistência, por mínima que ela seja.

            Como começar? Comece desejando um BOM-DIA! Não haverá generosidade se não se souber dar, inicialmente, um bom-dia! Contudo, também não haverá novos entendimentos e recomeços se houver economia de AMOR. NÃO ECONOMIZE, AME!          O amor (do latim amore) é uma emoção ou sentimento que leva uma pessoa a desejar o bem à outra e, nessa linha, empresta outros tantos significados a outras áreas, tal como visto nas religiões, na filosofia e nas ciências humanas.

            O amor contém um aparelho biológico que é determinado pelo sistema límbico, centro das emoções, presente somente em mamíferos e talvez também nas aves. Penso que esse mecanismo seja de vital importância para a preservação da espécie humana, pois é por essa via que se possibilita o aprofundamento das relações. Para o psicólogo Erich Fromm, ao contrário da crença comum de que o amor é algo "fácil de ocorrer" ou espontâneo, ele deve ser aprendido, pois não é um mero sentimento que acontece, e sim uma faculdade que deve ser estudada para que possa se desenvolver - é uma "arte", tal como a própria vida.

            Porventura, sem reflexões como esta desenvolveríamos o altruísmo? Ou ficaríamos teorizando e divagando, convencendo-nos de um bem que não fazemos?

             Ao longo destes mais de 20 anos de atendimento tenho comprovado que todo indivíduo que se dispõe a compreender as dinâmicas do AMOR torna-se um SER pleno de AMOR e é habitado por um altruísmo de elevada grandeza. É dessa forma que eles deixam seu legado na lembrança daqueles que foram alcançados pelo bem que realizaram, pois nesse processo foram possibilitados reencontros e recomeços.

Destarte, que o AMOR seja nosso aliado nesse contínuo exercício assistencial de nos mantermos aquecidos, em meio à frieza existencial e líquida deste tempo.

            Em tempo, compreenda que, só o AMOR nos transcende! Sendo assim, o teu 2022, 2023, 2024 e todos os anos vindouros, não serão diferentes se não houver evolução de entendimento e leitura do ambiente ao qual se pertence. Insisto: todo SER pleno em AMOR é bem-sucedido, pela sua força de vontade inquebrantável e pela disposição generosa em aliviar o sofrimento humano, utilizando todos os recursos que possui, incluindo também a atenção qualificada pela escuta e o exercício de suas capacidades intelectual.

            Esses são os que mudam o mundo, as narrativas orais e escritas existentes trazem uma multidão de testemunhos desses agentes possibilitadores de oportunidades. Que neste tempo, o amor nos faça SER manifestação do bem. Só no amor nossa humanidade é aperfeiçoada, por meio do exercício genuíno da generosidade desprovida de qualquer interesse.

             Em conclusão, cito o poeta grego Hesíodo, que viveu no século VIII A.C., o qual definiu o amor como uma força que move as coisas. A partir dessa afirmação, altruístas por excelência moveram não apenas coisas, mas transformaram o mundo ao longo dos tempos. Para comprovar isso, temos materiais como crônicas, biografias, filmes, documentários etc, que registram nuvens de testemunhas de seus feitos.

             Muitos outros transformam e poderão ainda transformar o tempo presente, a começar pelo meio em que vivem. A história da humanidade está repleta desses agentes transformadores, que por onde passaram deixaram seus legados.

 “Talvez generosidade não seja dar o que se pede, mas dar o que é preciso.” – Valéria D. Medeiros.

            Por último, um ponto a refletir: qual o seu nível de altruísmo no exercício da sua generosidade, considerando os últimos acontecimentos que afetaram o mundo?

  

Cezar Camargo

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             Psicanalista Clínico com pós-graduação em Psicologia analítica, Neuropsicologia, Psicossomática, Linguística aplicada e Liderança e Gestão de Equipes. Mestrando em Psicanálise Aplicada, membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise e Psicoterapias, Especialista em Desenvolvimento Humano e em cuidados para 3° idade. CEO da D’CamargoConsulting Dh, desde 2015. É também Coordenador-Geral da Fundação D’CamargoCenters, uma iniciativa sem fins lucrativos que realiza e promove programas de cuidados à saúde mental, para comunidades em estado de vulnerabilidade social, localizadas na região Zona da Mata, estado de Rondônia.   

 

Rolim de Moura, Rondônia, 06/2022.

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