Antes de ler olhe bem a imagem do texto, o
que vem a sua mente? A partir uma postagem, pode se desencadear tantas possibilidades,
criar uma ideia ao seu respeito, seja positiva ou negativa. De início pergunto,
qual a real motivação dessas selfies? É trabalho? Carência? Você sabia que 6
selfies ou mais já constitui transtorno, muita gente no Brasil vai precisar se
tratar. Infelizmente o difícil vai ser
encontrar ajuda para acabar com um “transtorno” que é “queridinho” de parcela
significante dos jovens – sem falar que aqui não há tratamento disponível e
gratuito para quase nada (físico), imagine para doença de fundo mental! Lamentavelmente, com isso, os números de
transtornos mentais só tendem a crescer! No Reino Unido, a Sociedade Real para
a Saúde Pública (RSPH, na sigla em
inglês) pede ao governo britânico e às plataformas de redes sociais que
instalem alertas pop-up em celulares, a serem ativados para pessoas que
ficassem online por mais de duas horas. A proposta se segue a pesquisas e a
manifestações de entidades de defesa infantil que argumentam que as redes
sociais trazem malefícios aos jovens. Em janeiro, mais de cem especialistas e
organizações internacionais em saúde infantil pediram ao Facebook que
extinguisse seu aplicativo de mensagens voltado a crianças com menos de 13
anos, o Messenger Kids, alegando ser “irresponsável” almejar estimular as
crianças pequenas a usar a rede social.
No centro Integrado dos Transtornos do
Impulso do Hospital das Clinicas, em São Paulo, a Psicóloga Dora Sampaio Góis
que monitora o Programa de Dependência Tecnológica, atende pessoas diariamente
que perderam o elo com os amigos e só conseguiam cultivar os virtuais. Ela diz
uma coisa interessante: À internet não muda a índole de ninguém, o que vicia é
a possibilidade de melhorar o conceito sobre si mesmo. Aí é o que aumenta a
solidão. O verdadeiro mal está dentro e não fora. Todo mal materializado antes
foi gerado no pensamento. O psicólogo americano Stanley Milgram já em 1970
constatou em seus estudos, que as pessoas ignoravam outras ao redor
simplesmente pela impossibilidade de dar atenção a todos elas, é exatamente
como agem hoje em relação ao mundo conectado. Mas te pergunto porque falar com
inúmeros contatos ao mesmo tempo? Interagir com diversas redes ao mesmo tempo?
Que loucura!
A Rede Social é o melhor ponto virtual/encontro
para se interagir. Essa ferramenta é utilizada para conversar, relacionar com
estranhos e pessoas que fizeram ou fazem parte do seu convívio. Segundo Adiméia
Dias Coelho - Analista de Sistemas, elas postam suas intimidades, relações,
planos, informações trabalhistas, fotos e vídeos, não pensando nas
consequências que tudo isso pode acarretar. Futebol, religião, política são
temas polêmicos que sempre geram discussões, pois as opiniões são diversas.
Quase nunca se chega ao consenso e o “Curtir” pode ser acionado mesmo em uma
discussão irrelevante. De acordo com Nogueira (2011), “Redes Sociais são o meio
onde as pessoas se reúnem por afinidades e com objetivos em comum, sem
barreiras geográficas e fazendo conexões com dezenas, centenas e milhares de
pessoas conhecidas ou não”. Ela ainda destaca que atualmente as exposições nas
redes sociais passaram a acontecer de forma desenfreada, como fotos, vídeos
caseiros com conteúdos sensuais, comentários e xingamentos. O modo de diversão
das pessoas foi alterado; todos os programas sociais são publicados
instantaneamente nas redes sociais. Festas, shows, competições esportivas,
lazer em geral e até os cardápios são divulgados. A privacidade dos usuários
das redes sociais não é mais prioridade, uma vez que detalhes de suas vidas são
postados, podendo comprometer as relações sociais, profissionais. Pessoas que
se ausentam nos seus empregos com falsas justificativas e, ao mesmo tempo,
demonstram outra realidade nas redes sociais, participando de eventos sociais
nos horários de trabalho.
Nesse ponto há uma manifestação narcísica,
que está sempre latente. O narcisismo, no dicionário, significa amor pela
própria imagem. O termo foi inspirado no mito de Narciso e, no século XIX,
adotado pela psiquiatria. Posteriormente, o narcisismo se tornou um termo da
psicanálise, utilizado para descrever o transtorno de personalidade narcisista.
A rede social potencializou esse culto a própria imagem, seja estético ou intelectual.
O narcisismo pode ser abordado tanto do ponto de vista do indivíduo, quanto da
cultura como um todo. No segundo caso, ele é visto como uma consequência da
sociedade de consumo, em que a imagem do indivíduo, associada ao que ele
consome, é objeto de espetáculo. A espetacularização do consumo baseada na
imagem é um comportamento cultural.
O mito de Narciso, que inspirou o termo
"narcisismo", conta a história do filho de Cefiso e Liríope, o bebê
mais lindo do mundo, Narciso. Sua mãe, preocupada com o excesso de beleza do
filho, consulta Tirésias - um cego que tinha o dom de prever o futuro como
forma de compensar a perda de sua visão - e ele lhe diz que Narciso poderia
viver muito bem, com a condição de que jamais pudesse ver a si mesmo. A mãe de
Narciso, preocupada e crendo no que lhe dissera Tirésias, manda quebrar todos
os espelhos da casa e faz de tudo para que seu filho cresça sem jamais ver a si
próprio. Mas, um dia, Narciso escapa dos seus cuidados e, em um lindo bosque,
resolve beber a água de um pequeno lago. Assim que se debruça, Narciso fica
surpreso com o que vê: a própria imagem. "Que lindo! Que perfeito!",
pensa ele. E, desde então, ficou paralisado: não comia, não bebia, estava
apaixonado por si mesmo. Depois disso, Narciso nunca mais foi visto e os deuses
o transformaram em uma bela flor amarela e branca.
Freud, neurologista criador da psicanálise,
introduz o conceito de "narcisismo" em seu ensaio Sobre o narcisismo
(Zur einführung des narzißmus, em alemão). Nele, Freud explora aspectos
inconscientes da mente e cita Paul Nacke, a primeira pessoa a usar o termo
"narcisismo" em um estudo sobre perversões sexuais. Freud diz que
Paul Nacke escolheu o termo narcisismo para descrever “a atitude de uma pessoa
que trata seu próprio corpo da mesma forma pela qual o corpo de um objeto
sexual é comumente tratado” - e acrescenta que todos têm algum nível de
narcisismo em seu desenvolvimento. Mas Freud complementa a análise de Paul
Nacke e diferencia tipos de narcisismo. No narcisismo primário, crianças e
jovens acreditam ser superiores e investem toda sua libido em si mesmas.
Entretanto, com o passar do tempo, essa libido é dirigida para fora, para
outros objetos que não o próprio indivíduo. No narcisismo secundário, após a
libido ser projetada para fora, os indivíduos a direcionam de volta para si, o
que resulta em adultos deslocados da sociedade, que não possuem capacidade de
amar e de ser amados. O narcisismo exige uma intensa autopreservação da imagem
(no sentido do que o indivíduo representa para si, não necessariamente
fisicamente). A mínima ameaça à autoimagem idealizada se torna motivo de
vergonha, culpa e de atitudes defensivas. Segundo Stella Legnaioli em seu artigo para o site ecycle, a
centralidade no indivíduo, que se baseia na autorrealização a partir do
consumo, despreza as relações e os ideais coletivos; e faz com que o ser foque
em sua própria vantagem, mantendo contato com o outro apenas como instrumento
de confirmação do próprio eu. Dessa maneira, o consumo tem criado uma sociedade
culturalmente narcisista. Entretanto, apesar do narcisismo cultural se
manifestar na fase adulta, ele não se caracteriza como um narcisismo
secundário, e sim como uma regressão ao narcisismo primário, à fase
infantojuvenil. Deixo uma pergunta, como podemos lhe dar com essa cultura
centrada no EU e ao mesmo tempo desenvolver o SER sem ser taxado como cafona,
diferente entre outros adjetivos? Por fim destaca, que o indivíduo que depende
do consumo para se autorrealizar, além de ansioso, inseguro e infeliz, é
alienado. Ao recorrer à compra compulsiva para suprir a carência afetiva, devido
ao medo do abandono e do vazio, acaba por se afastar da relação com as outras
pessoas e com o meio em que vive.
Antes de terminar cito aqui, entre os
crimes cometidos na internet, destaco o Cyberbullying / Assédio virtual. É uma
forma de assédio e agressão que ocorre entre os pares, tomando como meio novas
tecnologias, com a intenção de propagar mensagens ou imagens cruéis, para que
sejam vistas por mais pessoas. A rápida propagação e sua permanência na
Internet aumentam a agressão contra a vítima. Segundo dados da Organização das
Nações Unidas (ONU) e da Fundação Telefônica, 55% dos jovens latino-americanos
já foram vítimas de cyberbullying. Para isso existem pessoas que criam perfis
falsos e colocam fotos falsas. Estão nas redes sociais esperando o vacilo de um
internauta. É fundamental o bom senso e pensar várias vezes antes de
compartilhar informações nas redes sociais. Segundo BRYANT (2013), 40% dos
usuários dão acesso livre a seus perfis, permitindo que qualquer um veja suas
informações e 60% restringem o acesso a amigos, familiares e colegas. Em outro
texto deste blog, relatei que o facebook é o centro de 1,4 bilhões de pessoas?
Dentre todas, em verdade o facebook é a maior distração, como também é sem dúvida
uma das excelentes ferramentas na interação social. Só no Brasil 30% tem no
facebook usa fonte primaria de notícias e informações.
Em tese 100% não fazem ideia que esta
ferramenta criada por Mark Zuckerberg e colaboradores edita o que eles veem em
sua timelines. Acredita-se que os cientistas de dados sociais têm acesso a 20%
da população mundial, sabem o que curtem, compartilha, comenta, consome, lê se
interessa em quem vota o que come, com quem se relaciona, o que compra, o que
ama, e outros que diariamente se despeja no facebook. Diante disso todo cuidado
é pouco, até que ponto devemos nos expor para criar nosso público ou simplesmente
na intenção de se popularizar uma marca ou produto. O capitalismo exige essa
continua alimentação para vender mais, para se posicionar de forma clara na
mente de seus clientes. Eu não me encaixo nesse mercado, que exige que você marque
presença a todo custo, eu escrevo e posto meus conteúdos de maneira leve e na
medida que tenho inspiração. No que se refere a individualidade de cada um,
deve se buscar o equilíbrio. Marcar presença sim, mas tendo limites para que
não desenvolva uma dependência tecnológica.
O professor Jerônimo define bem isso: “Há pessoas que vivem em solidão, porque
construíram muros em trono de si, ao invés de pontes ligando–as a outros”. Este muro é sustentado pela falsa
sensação de estar conectado. Estar conectado é uma relação fantasiosa perigosa.
É preciso ao conectar lembrar-se conscientemente que nada é o que é. Estamos vivendo a “era da individualização” e a possibilidade de
inúmeras conexões permite isso. A realidade se vive no contato físico, no
abraço, olho no olho, no calor humano. A fantasia é ilusória, e nela não há o
que viver. Segundo pesquisas 73% dos brasileiros que possuem celulares não saem
de casa sem o aparelho. E mais de 90% dos usuários usam o dispositivo para
entrar na internet o fazem com outras mídias. Em geral 83% não abrem mão do
celular no restaurante, e para finalizar 96% utilizam o smartphone em casa. As
novas gerações de adolescentes já nascem conectadas. É a chamada geração Z. O
que será da geração Z no futuro?
Cezar Camargo
Psicanalista Clínico, Teólogo,
Palestrante, Coach Relacionamentos, Consultor T&D & Mentoria Pessoal.
Sócio Proprietário na D’Camargo Consulting.
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