JÓ
SUPLICA JUSTIÇA (Jó 6.1-7.21).
Elifaz encara mal a impaciência com que
Jó suporta o seu sofrimento. Jó acusa-o de olhar apenas para um dos pratos da
balança. Elifaz censura o peso da sua impaciência: mas se ele olhasse para o
prato em que pesa a sua aflição, ele o encontraria incomensuravelmente mais
pesado.
As minhas palavras têm sido inconsideradas
(3).
Segundo outra versão, "Foram as
minhas palavras precipitadas?" "Não se condene o grito do aflito
antes de se tomar em conta a sua aflição" é o seu argumento. Jó sente-se
como um homem cujo corpo estivesse crivado de flechas envenenadas disparadas
pelo Todo-Poderoso. Não pode evitar que o veneno se lhe espalhe pelo corpo; não
pode impedir-se de proferir palavras doridas e delirantes. Será a sua situação
devidamente avaliada? Notem-se as palavras do vers. 4: o seu ardente veneno o
bebe o meu espírito. O seu grito de agonia tem uma razão de ser. Não é o caso
do homem que se lamenta sem razão. Ele perdeu o gosto da vida (6-7) que compara
à comida insípida, sem sal. Mas a morte, pelo contrário, apresenta-se-lhe
imensamente desejável. A perspectiva da morte é o seu único conforto (8-10).
Note-se a seguinte tradução do versículo 10: "então conheceria eu o
conforto; sim, exultaria na dor que não poupa; porque não neguei as palavras do
Santo". Acentua-se, nestas palavras, a perfeita tranqüilidade com que Jó
encara a morte, a sua total ausência de medo. A sua mente corre a encontrá-la,
mesmo que para conhecê-la tenha de franquear as cruéis e implacáveis portas da
dor e da angústia. Nada tem a recear da morte nem do Deus cujos mandamentos
jamais desprezou.
A vida exigiu demais da sua força e da sua paciência. Jó não
pode lutar porque não é um super-homem com força de pedra e carne de bronze.
Os seus recursos naturais esgotaram-se
(11-13).
Note-se esta versão do versículo 13: "Não
desapareceu de dentro de mim tudo quanto poderia amparar-me? Não se me
esgotaram todos os recursos?"
JÓ REPREENDE OS AMIGOS (6.14-30).
Um homem que se afunda ao peso da
aflição deveria poder contar com a simpatia dos seus amigos. A Jó foi negada
essa simpatia, essa compaixão. Numa imagem notavelmente apropriada, Jó compara
os seus amigos a ribeiros endurecidos pela neve e pela geada do inverno (16),
que se derretem quando o tempo aquece até que acabam por secar e desaparecer.
Em seguida perpassam rapidamente perante os nossos olhos caravanas árabes,
sequiosas, que se precipitam para os ribeiros apenas para conhecer a mais
amarga das desilusões. Somem-se no deserto para aí perecerem (18-20). O vers.
18 é, segundo outra versão: "as caravanas que por eles passam, afastam se;
sobem ao deserto e perecem".
O vers. 21 sugere-nos uma razão para que
os amigos de Jó se tenham tornado como cisternas rotas cujas águas
desapareceram. O pavor provocado pela contemplação da miséria de Jó gelou-lhes
a compaixão e a simpatia. Receiam que tomar o partido de Jó seja oporem-se ao
Deus que pode atingi-los com calamidades semelhantes. Até ao fim deste capítulo
desenhar-se-á um contraste entre o que Jó esperava dos amigos e aquilo que
deles recebeu. Ele não lhes tinha implorado auxílio material (22,32) nem
proteção do opressor e do tirano; tinha esperado, sim, simpatia genuína e uma
atitude reta. Mas o melhor que deles recebera fora insinuações contra a sua
integridade.
Os amigos haviam cometido o erro de darem às suas palavras -
palavras de um homem caído no desespero - uma interpretação literal, como se
elas fossem friamente premeditadas (25-26). Ele está pronto a sustentar a sua
integridade, a encarar o mundo de cabeça levantada, consciência pura e olhar
firme. Voltai (29) quer dizer "mudai de atitude, procurai outro motivo
para o meu sofrimento". No versículo 30 Jó pergunta: "Está,
porventura, pervertido o meu senso moral? Não saberei eu distinguir entre o bem
e o mal?".
Que a Graça do eterno esteja com todos.
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