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"O EQUILÍBRIO DAS PULSÕES SEGUNDO O EVANGELHO"

Digo, porém: Vivam em Espírito, e não haveis de cumprir a cobiça (pulsões) da carne.
(Paulo, Gálatas 5:16)  

Em sua terceira viajem revisitou as comunidades fundadas durante a segunda viajem na Ásia menor (Turquia) e na Europa (Grécia). Neste breve tempo da última visita os Gálatas (gentios, não judeus) ouviram judeu-cristãos “radicais” que ensinava a observância dos rituais da lei, a começar pela circuncisão. É bom lembrar que os Gálatas antes de receberem a graça não eram judeus, mas gentios (pagãos). Sendo assim para Paulo, isso era algo que Cristo não exigia mais tal retrocesso, visto que a salvação é de graça. 

Liberdade e graça são conceitos chaves da carta aos Gálatas”.
Há quatro temas específicos nesta carta:
1- O único evangelho.
2- A liberdade Crista.
3- A fé agindo pelo amor.
4- Os frutos do Espírito.

Quero me ater ao quarto tema, o fruto do Espírito é prática inspirada intrínseca recebida de Deus quando decidimos andar segundo a novidade de vida em conversão diária no chão da vida. Paulo aconselha aos Gálatas que se andassem no Espírito seriam dotados de uma capacidade a não mais andar segundo suas paixões. Toda via segundo sua compressão Paulo descreve: Na carne são manifestas, as quais são; O adultério, a fornicação, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos digo os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus. (Gálatas 5:19-21) 

Logo se entende que viver entregue as ações da carne nos torna incapaz de vivermos a coerência e a lucidez do evangelho, a ação da graça uma vez discernida na consciência nos direciona a viver exemplificadamente a produzir os frutos do Espírito que é: Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança contra estas coisas não há lei. (Gálatas 5:22-23)

Pensando sobre o que venha ser “concupiscências”, etimologicamente, este termo se originou a partir do latim concupiscens, que significa “o que tem um forte desejo”, que deriva da palavra concupera, que quer dizer “ter forte desejo”. No âmbito religioso, caracteriza o uso do desejo e prazer sexual como único sentido para a vida, mas não é. Entre as definições pode ser cobiça por bens materiais e tudo aquilo lhe permita prazer e satisfação.

"Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não vêm do Pai, mas sim do mundo. Ora, o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus, permanece para sempre." 
(1 João 2: 16-17)

O mundo aqui se refere ao sistema corrupto que opera segundo os padrões dos desejos. Aquele que vive em Deus permanece e compreende que aqui tudo é transitório. O Espírito nos conduz ao equilíbrio, ao discernimento para vida, estamos livres da lei que condenava, agora somos guardados no amor do Pai revelado na cruz antes da fundação do mundo.

Estudando Freud encontro dois princípios que estão interligados e que nos ajuda a conhecer melhor este termo, “concupiscência”.  Que na verdade é um impulso energético interno que direciona o comportamento do indivíduo. O comportamento gerado pelas pulsões diferencia-se daquele gerado por decisões, por ser aquele gerado por forças internas, inconscientes. A pulsão distingue-se do instinto, por este ser ligado a determinadas categorias de comportamentos preestabelecidos e realizados de maneira estereotípica, enquanto aquela se refere a uma fonte de energia psíquica não específica, que pode conduzir a comportamentos diversos. O conceito de pulsão foi utilizado por diferentes teorias da motivação, sendo a mais importante a de Sigmund Freud e a de Clark L. Hull.

O princípio de prazer é o campo das atividades psíquicas, entregue as fantasias inconscientes. Já o princípio de realidade corresponde à obtenção de satisfação no plano da realidade. Cabe ao ego mediar e garantir a supremacia do princípio de realidade sobre o princípio de prazer. Nas palavras de Freud: “[o ego] consegue discernir se a tentativa de obter satisfação deve ser efetuada ou adiada, ou se a reivindicação da pulsão não deverá ser pura e simplesmente reprimida como perigosa.” A principal função do Ego é buscar uma harmonização inicialmente entre os desejos. Leia mais em https://pt.wikipedia.org/wiki/Ego

Uma vez decididos a andar no Espírito esvaziamos o inconsciente dos desejos reprimidos, que são aqueles que mantemos oculto. Segundo a terapeuta Elisabeth Cavalcanti tudo aquilo que tentamos reprimir em nós, torna-se mais forte, lei básica da existência, a repressão gera uma força ainda maior. Quanto mais reprimimos nossos reais sentimentos e desejos, mais intensos eles tentaram se manifestar.

Então leia e reflita: Quem vive segundo a carne tem a mente voltada para o que a carne deseja; mas quem, de acordo com o Espírito, tem a mente voltada para o que o Espírito deseja. A mentalidade da carne é morte, mas a mentalidade do Espírito é vida e paz. (Romanos 8:5,6) 

A mente de acordo com o Espírito não deixara espaços para desejos reprimidos. A mente em Deus produz para a vida, projetos de paz. Uma vez que nossa consciência se converte, nosso inconsciente é limpo através da exposição diária ao evangelho. Na medida a nova criatura se desenvolve a natureza segunda Deus aflora permitindo uma vida saudável e equilibrada.   

O princípio de realidade surge como uma necessidade do psiquismo de descarregar a tensão pulsional não de uma maneira alucinatória, mas a partir das condições que o mundo oferece. Assim, já não se representa o que é agradável, mas sim o que é real, mesmo que seja desagradável. O princípio de realidade sucede o princípio de prazer, contudo, o princípio de prazer não desaparece só se torna o oposto do princípio de realidade.

A natureza do novo homem segundo Deus é pacificada, toda pulsão é subjugada segundo o entendimento do andar em Cristo. No evangelho o princípio do prazer é apenas conhecimento e o principio da realidade se torna vã sabedoria comparado aos benefícios da graça no homem. Diante dessa breve analise uma vez entregues aos cuidados da graça nos dispomos de capacidade para vivermos equilibradamente neste tempo de incertezas e na medida que conhecendo melhor a nós mesmos aprendemos a lidar com nossas pulsões, que uma vez conhecida é certo que se preciso o Espírito intercede com gemidos inexprimíveis.

Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos. Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito. (Gálatas 5:24,25)

Em resumo uma vez alcançado pelo amor inatingível do Pai, também com ele renunciamos nossas pulsões, os desejos destrutivos, as inclinações de morte para andar guiado e direcionado a uma nova mentalidade adquirida pelo despertar do novo homem nascido segundo o Espirito. A expansão da consciência se possibilita no batismo da consciência em conversão consciente a partir do entendimento permitindo pelo quebrantar do Espírito nos convence do erro. O conhecimento produz esperança libertadora, cria uma linha direta e disponível em todo tempo a Deus. Neste processo fica conhecido e discernido os benefícios de viver segundo Espírito. O entendimento do amor nos permite construir um mundo melhor e por esta via que Deus se apresenta de múltiplas formas segundo seu querer.

Portanto, uma vez que Cristo sofreu corporalmente, armem-se também do mesmo pensamento, pois aquele que sofreu em seu corpo rompeu com o pecado, para que, no tempo que lhe resta, não viva mais para satisfazer os maus desejos humanos, mas sim para fazer a vontade de Deus.
(1 Pedro 4:1,2)

O equilíbrio está na decisão da conversão diária em novidade de vida no chão da vida, discernindo que é no caminho que se faz o caminho, é nas incertezas que se cresce e amadurece. A vida se compreende reavaliando cada passo e nos desencontros vamos nos corrigindo. A graça nos permite a liberdade de servi-lo, de estar cativo do amor, disponível para uso continuo enquanto habitarmos neste corpo perecível. Uma vez decididos a andar segundo Deus, viveremos sujeitos a todo tipo de paixões, mas certos que seu Espírito nos fortalecera, nos manterá guardados na palavra, discernirá em nós as armadilhas da vaidade, guardará nosso coração das paixões e do autoengano.

Que sejamos guardados na fé e na boa consciência até o dia perfeito estando nele servindo segundo o dogma central, o amor. Em amor somos plenamente amadurecidos nele.  

Cezar Camargo
Outono – Maio/2016

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